sábado, agosto 27, 2005

Clonagem: um moderno drama ético em "A Ilha"


Boa noite caros bloguistas.

Ora: "A Ilha", de Michael Bay,começa muito (mas muito) bem. Os cenários futurísticos que compõem este mundo ainda desconhecido para nós, o estilo de vida que as personagens levam (todos acordam com saudações e agenda personalizadas, todos trajam roupa branca, sempre meticulosamente lavada, engomada e arrumada na gaveta pessoal, todos têm a sua dieta específica, as suas tarefas a desempenhar, o seu bem estar a manter). No fundo, a única "obrigação" dos habitantes deste mundo é manterem-se saudáveis e felizes, e a sua única esperança é irem para "a ilha", um lugar idílico, único no mundo a permanecer paradisíaco (e habitável) depois da "contaminação" que quase extinguiu a raça humana. Os poucos sobreviventes que escaparam, foram recolhidos e transportados para o tal "mundo" que vai sendo apresentado. Todas as semanas há uma lotaria, em que, ao acaso, é seleccionada uma das personagens, e o prémio é, nada mais nada menos do que a possibilidade de repovoarem o mundo pós-contaminação, começando na ilha...

Ewan Mcgregor é Lincoln-6-Eco, um destes espectadores atentos, sempre na esperança de ser vencedor da lotaria... Mas ele é-nos apresentado como uma personagem diferente das outras, que parece não aceitar passivamente aquela vida aparentemente tão perfeita. Os seus arrepiantes sonhos conduzem a sua mente para duas questões que desde os primórdios acompanharam o Homem: quem somos e por que estamos aqui? Então ele investiga, ele ultrapassa barreiras, quebra regras, e vê o que não era suposto... Começou por encontrar um besouro vindo do exterior (teoricamente contaminado por gases mortais) e quando teve acesso "ilegal" à ala hospitalar, vendo uma conhecida sua dar à luz e ser assassinada em seguida, começou a perguntar-se o que estaria a acontecer. Mal ele sabia que estava já a ser observado devido a esta vontade de questionar o que o rodeava... Mas quando ele percebeu que os vencedores da lotaria nada mais ganhavam do que uma viagem até à sala de operações para lhes serem retirados órgãos, e que os "sobreviventes" da contaminação não eram mais do que criaturas com origem num laboratório, achou que questionar já não era suficiente.

Tinha que avisar a sua amiga (apenas amiga, porque tudo o que fosse menos de meio metro entre indivíduos do sexo oposto era considerada proximidade excessiva que não poderia ficar impune) Jordan-2-Delta (Scarlett Johansson) que tinha sido premiada com uma viagem para a ilha e estava radiante com a sua sorte! No entanto, para a avisar, Lincoln teria que ir ao dormitório feminino! Já aí foi um grande escândalo e uma enorme quebra de regras, mas era apenas o começo.

A fuga começa, e, sempre perseguidos pelos guardas da zona, conseguem miraculosamente escapar-se, e perceber de uma vez por todas que têm vindo a ser enganado: a própria ilha não é mais do que um grande painel-holograma... o que está para fora do mundo deles é apenas um enorme deserto. Correm enquanto podem, e quando já estão suficientemente afastados do mundo-mentira deles e já bastante próximos do NOSSO mundo, conseguem obter respostas num bar manhoso, dadas por uma cara conhecida deles (um trabalhador do...hmmm...pronto, do sítio de onde eles vinham...o prédio subterrâneo, o que queiram chamar!)

Bom, foi nesta altura que me veio à cabeça que o filme era sobre clonagem, e tudo começou a fazer sentido na minha mente (eu sei que sou lenta:P). Mas pronto... Eles eram clones de ricaços e famosos do nosso mundo (eram os que podiam pagar o preço exorbitante que pediam), eram a apólice de saúde desses tais poderosíssimos. No entanto, os sponsors tinham sido enganados, pois pagaram pela possibilidade de ter filhos, órgãos, cura para as suas doenças, mas através de seres vegetativos, sem consciência e sem sentimentos. Ora, lógico que não era isso que na realidade acontecia. Com a sua boa fé, pureza e inocência, lá foram 6-echo e 2-delta no empreendimento atribuladíssimo que foi procurarem Tom Lincoln (um desenhador de sucesso, amante da velocidade e da vida boémia, com hepatite) e Sarah Jordan (actriz-modelo famosa, que tinha sofrido um acidente, e precisava urgentemente dos órgãos que reservara para si ao pedir que a clonassem), seus sponsors.

Não falharam a missão mesmo tendo em seu encalço um grupo de peso... E é nesta altura, quando já todas as respostas surgiram e já vários comentários "Ah, então são clones!" se fizeram ouvir, que o filme se começa a transformar num banal filme de acção. Efeitos engraçados, sim senhor, mas com escusadas voltas agoniantes de câmara, e tantas imagens a surgirem a cada momento, que, na minha opinião, acaba por fazer com que o mais atento espectador se disperse um pouco. Mas pronto, foi o caminho escolhido pelo realizador, é um caminho viável e possível. Nem tenho sugestão alternativa para o que podia ser o resto do filme, mas tenho para mim que desde que a história se "descodificou", pouco ficou para expectativa...

Também achei engraçada a enorme quantidade de publicidade durante o filme: estávamos sempre a ser bombardeados pela Puma, Ford, Nokia, Msn, e uma glamouroso e prolongado sketch publicitário à Calvin Klein...

Não posso deixar de referir o final, em que, depois de muitas peripécias, os nossos dois clones preferidos voltam ao seu mundinho para salvarem heroicamente os seus milhares de colegas clones... E conseguem! E o fim é uma grande mancha branca de pessoas a correram pelo deserto em busca da sua liberdade com uma música de puxar ao sentimento, num típico "final feliz".

Mas desta forma, terá sido um verdadeiro final feliz? Nenhuma daquelas pessoas (sim, porque apesar de clones, tinham consciência, sentimentos, memórias) estava preparada para se enquadrar na nossa sociedade, nem a sociedade estaria preparada para receber os seus adorados famosos a duplicar... Talvez criar um programa de adaptação a clones (como referiu a amiga sentada ao meu lado no cinema) ou... Bom, é difícil de encontrar um fim perfeito, o que nos leva a questionarmos a ética relacionada com esse grande tema da actualidade: a clonagem.

Será correcto sacrificar humanos/produtos (conforme queiram chamar, dependendo da vossa visão) em tudo semelhantes a nós (e mesmo iguais a uma pessoa existente) para salvar outros humanos (cuja única diferença é terem evoluído naturalmente e não pela mão da ciência)? Será correcto duplicar alguém para ter sempre um transplante seguro em qualquer situação? Sentir-se-iam bem a observar uma operação para retirar um órgão vital a um ser igual a vocês, apenas para vossa sobrevivência (e morte desse mesmo ser semelhante)?

Talvez torne o texto tendencioso a partir daqui, mas não consigo ser imparcial neste tema... Poderão alguns dizer: "clones nunca serão iguais a nós, e sim, podemos sacrificá-los em nosso benefício". Se considerarmos "Homem" com a definição que o dicionário apresenta, de: "ser dotado de inteligência, linguagem articulada, classificado entre os mamíferos da ordem dos primatas e caracterizado pelo seu cérebro volumoso, posição vertical e mãos preênseis", então qualquer clone a que demos vida e prendamos até precisarmos dele como dador de órgãos, deve ser considerado humano. No entanto, é sabido que a investigação da clonagem nunca teve este fim, mas sim o de clonar células estaminais para uma tentativa de cura de certas doenças. Mas Einstein não quis também mostrar ao mundo a sua teoria da relatividade para dar a pista da bomba atómica que viria a caír sobre Hiroshima, não será verdade?... Logo, temos que pensar nas mentes perversas por aí espalhadas, e temos a certeza que é inevitável o uso dos conhecimentos recentes da clonagem de humanos para fins pouco éticos...

John Kilner, presidente do "Centre for Bioethics and Human Dignity", nos Estados Unidos, afirma que: "(...)morte ou a mutilação do clone são os resultados mais prováveis da clonagem de mamíferos" e acrescenta "Submeter os seres humanos à clonagem não é assumir um risco desconhecido, é prejudicar as pessoas conscientemente". Bom, na verdade, ninguém pode garantir que a clonagem já tenha sido usada para a criação de um bebé-clone, apesar das declarações do cientista italiano Severino Antinori, que aclamou a gravidez de 3 mulheres com embrião clonado. Mas desde a altura destas declarações (em Abril de 2002) que nunca mais ninguém o viu, quer para confirmar ou desmentir.

Bom, a clonagem humana implica riscos elevados, mas para muitos poderá trazer grandes benefícios. Agora: contrabalançando prós e contras, valerá a pena o risco? Se já tivessemos a resposta a esta pergunta, tudo seria mais fácil, mas também é certo que é difícil arranjar uma, senão não teríamos tantos debates éticos sobre o mesmo tema!

De qualquer forma peço desculpa pela dissertação prolongada... E pensava eu que ia apenas falar no filme!!

Darko, *a gaja que até gostou do filme, mas duas vezes é capaz de ser demais (digo eu, sem certeza ou convicção)*

segunda-feira, agosto 15, 2005

Palavras não chegam: U2, o concerto dos concertos (para fãs, admiradores, simpatizantes, ou mesmo pessoas indiferentes à sua música...)

Caros bloguistas:

Ainda estou extasiada com o dia de ontem... 14 de Agosto de 2005 é uma data que nunca esquecerei. Vou tentar registar aqui o pouco que as palavras podem explicar da experiência que foi, mas mesmo que eu tivesse um dom perfeito da palavra, seria impossível demonstrar a beleza e perfeição do concerto (quanto mais assim, que sou uma reles rapariguita aqui perdida no mundo dos blogs e que gosta de ir partilhando as suas experiências).

Cheguei a Lisboa cedo, por volta das 11, mas como já tinha ouvido no telejornal relatarem a história de várias pessoas que dormiram à porta do estádio, achei que seria prudente ir até lá marcar o meu lugar o mais perto do palco possível. Mas ao ver o túnel cheio (literalmente) de fãs, achei que já não tinha grandes hipóteses de ficar num local decente, pelo que achei melhor passar um tempinho de qualidade até às 17h (abertura das portas). Fui dar umas voltitas ao Alvaláxia, almocei calmamente, descansei um bocado, e por volta das 2 da tarde pensei em ir dar um giro pelo exterior... Quando chego de novo à zona da fila para entrada no estádio, já havia um grupo enorme de pessoas ao sol, exaustas e desesperadas por uma simples sombra, mas impossibilitadas de entrar para a zona coberta do túnel pelos seguranças. Quando estava prestes a afastar-me (sim, não ia ficar ali feita parva a derreter ao sol...) eis que os seguranças deixam passar esse grupo para o túnel. Eu muito sorrateiramente corri, infiltrei-me no grupo, e lá fui! Ali sim, estava fresquinho, dava para nos sentarmos (no chão, mas sempre era um piso liso e confortável...ou não...) e para merendarmos em comunidade:)

Conheci lá logo pessoal (no fundo parecíamos ser todos uma grande família) e já falávamos como se nos conhecessemos desde sempre...

Passadas 3h lá abriram as portas (quanto mais a hora se aproximava, mais o tempo custava a passar com tanta ansiedade...) e só o facto de vermos a fila avançar 1 metro em cada 5 minutos era um alento e um presságio de que brevemente estaríamos dentro do estádio! Realmente a nossa hora não tardou, e às 17h30 estávamos a ser revistados pelos seguranças para finalmente entrar...(quando falo no plural, refiro-me a mim e as pessoas que se mantinham junto de mim...porque era tanta gente que a discrepância de experiências no que toca a horários foi enorme...)

O momento em que o cenário que os inúmeros e labirínticos túneis de acesso deram lugar a uma visão paradisíaca do relvado foi inesquecível... O sol começou a incidir-nos directamente na cabeça, pelo que os lenços distribuídos gratuitamente pela RFM foram usados pela maioria como protecção... Mas entretanto, eis que vejo algo que me proporcionou uns segundos de pura frescura num dia tão quente: uma mangueira a jorrar água fresca em todas as direcções! Foi um momento que muito prezei (até àquela hora, com tão grande espera, ainda não tinham existido muitos desses momentos...). A confusão era enorme, a zona dos phones já estava cheia (a zona dos phones é nada mais nada menos do que um prolongamento do palco - em forma de phones - que permite que a banda vá caminhando junto a um grupo de 3000 privilegiados que, conforme a ordem de chegada, têm acesso a essa zona restrita). Como devem calcular, como cheguei já bastante tarde, vi a zona dos phones ao longe... E bem, eu não gosto muito de miragens, e se consegui bilhete, consegui entrar no estádio com poucas horas de espera relativamente à maioria do pessoal, por que havia eu de me contentar com um lugarzito manhoso no fundo do estádio? Lá fui (com uma das amigas que fiz cá fora) tentar a minha sorte junto dos seguranças da área restrita... A cada passo que dava, mais ridícula me sentia, mas não perdi a coragem, e perguntei se podíamos entrar. Ele explicou que não era possível "Ah e tal..." e estávamos nós a voltar ao lugar que nos estava destinado quando o segurança disse: "Vá, entrem lá"... Nós as duas (imagino que com os olhos a brilhar, entusiasmadas e incrédulas) não podíamos acreditar na nossa sorte, e nem olhámos para trás! Ficámos junto à base direita dos phones...

Ainda a pensar na simpatia do segurança (nem quero imaginar o género de desculpas que ele teve que dar aos fãs que nos viram entrar e também tentaram em vão seguir-nos o exemplo) lá fomos tentando passar o tempo... O cansaço já era geral, e só de pensar que teríamos que ficar assim até às 20h (hora em que os Kaiser Chiefs iriam entrar em palco para abrirem o concerto) mais cansados ficávamos. Íamos observando o estádio a encher, contando os minutos que passavam, e desesperando por umas cartas, um monopólio, um dominó, qualquer coisa que distraísse... Entretanto, como que atendendo aos nossos pedidos surdos, lançaram bastantes balões gigantes (vermelhos e brancos, não percebi porquê, visto estarmos no alvalade XXI) e lá andámos todos contentes a atirar os balõezitos de uns para os outros (pessoal de todas as idades - literalmente - todo divertido a jogar ao balãozinho... É para terem a mínima noção do nosso estado psicológico...lol).

Balão, bola, sandes, sumo, água, sms, conversa com o vizinho, observação do estádio, tudo eram maneiras de fazer o tempo passar... Até às 20h... O tempo estava tão bem controlado pelo público, que às 20h02 minutos, como os Kaiser Chiefs ainda não tinham pisado o palco, o pessoal assobiava, a reclamar pela falta de pontualidade (e ainda dizem que os portugueses não são pontuais...) Lá chegaram eles, animados, de gravatinha e com ar de meninos do coro, tentaram a sua sorte a falar português, dando "bô tárrdê" aos presentes e um "ôbrrigádô" aos aplausos. Saltaram, pularam, cantaram, e, pessoalmente, devo dizer que o concerto me agradou bastante. Não conhecia muito deles, mas acabou por ser uma boa experiência... Não se cansavam de dizer "Nós sómós Kaiser Chiefs!!!" com muito orgulho, talvez para deixarem já o nome no ouvido dos que vão voltar a vê-los no festival de Paredes de Coura. Perto do fim da actuação perguntaram se estávamos prontos para ouvir a melhor banda do mundo, o público aplaudiu afirmativamente e eles terminaram o concerto, dizendo "Mas antes, vão ouvir mais uma música da 2ª melhor banda do mundo". Ora nem mais! 1º: U2, 2ª: Kaiser Chiefs...ehehe Mas teve piada, o rapaz, foi engraçado, e ao menos sempre foi um tipo de entretenimento mais digno que jogar ao balão...

No fim do concerto, aguardámos mais 1h sem fazer nada (estava prevista a actuação de Keane, mas o vocalista adoeceu e a comparência deles não foi possível) mas esta hora já não custou tanto, primeiro porque estávamos ainda com a pica de Kaiser Chiefs, e depois porque sabíamos que o próximo momento digno de nota seria realmente memorável: os U2 iam subir ao palco!!

Às 22h04 minutos (desta vez o pessoal já não assobiou pela falta de pontualidade, mas começámos a cantar o "OH oh oh ohhhh ohhhhh" que antecede o "Hello Hello" da "vertigo"), e não nos fizeram esperar mais...as luzes apagaram-se, o quarteto entrou em palco, e ouviu-se "Um, Dois, Três, Catorze!"... Foi o delírio!!! Foram raros os momentos em que os pés do público tocavam o chão, as mãos não saíam do ar, e as vozes faziam-se ouvir por todo o estádio! Foi o primeiro indício de que Bono iria falar muito português pela noite fora... E assim foi!

Seguiu-se um momento sublime de aplauso inicial à grande banda que acabava de pisar o palco, e a segunda música não tardou! "I will follow" permitiu a muitos relembrarem um grande clássicos, e entoaram o intemporal "If you walk away, walk away, I walk away, walk away... I wil follow!!!". Foi um momento de grande energia, e durante a música que se seguia ("The Electric Co."), não me desconcentrei um segundo da melodia e letra, mas aproveitei para olhar à minha volta... Era a loucura! Gente jovem com toda a pica e com corpinho adaptado à adrenalina, pessoas a caminhar para o velho (fisicamente, só!) já com a barriguinha (barrigona): nada impedia ninguém de saltar, dançar e gritar em uníssono os refrões e mesmo estrofes!

Era tempo de tocarem a terceira música, e quando The Edge começou a lançar os primeiros acordes, estes soaram bastantes familiares a todos os presentes, e quando Bono começou a cantar, todos davam os saltinhos pequeninos que antecipavam o apogeu da música, que se fez sentir quando os saltos aumentaram de altura e se ouviram as 52000 pessoas gritarem como uma só: "You make me feel like I can fly!! So high! E...LE...VA...TION!!!!!! UHHHHH UHHH UHH UHHHHHHH". E enquanto estou a escrever isto, já estou a dar por mim quase aos pulos de novo, só de recordar a noite de ontem! Mas é melhor sentar-me calmamente e acabar o post duma vez, que já estou nisto há horas!

Logo depois, cantou-se (sim, porque Bono não cantou um único trecho sózinho, tinha sempre o público a fazer coro) "New Year's Day", também conhecida por todos, e logo depois mais um momento cheio de movimento e energias positivas com "Beautiful day"... Realmente, apesar de já ser noite há um bom bocado (mas os efeitos luminosos disfarçavam bem) todos cantaram com vontade: "It's a beautiful day!!! (téu, néu néu néu...-isto é a guitara do Edge, para quem não percebeu...-) the sky falls and you feel like it's a beautiful day! Don't let it get away...". Bom, nesta altura a letra foi realmente sentida, e sentia-se cá dentro qualquer coisa intensa, que fazia cantar cada mais com mais vontade, e apetecia realmente nunca mais saír dali... De qualquer forma ficará para sempre a recordação de um concerto maravilhoso e o pedido de Bono "Don't let it get away" será atendido da melhor forma...

Antes de "I still haven't found what I'm looking for", Bono falou um pouco da sessão com Jorge Sampaio nessa mesma tarde, em que recebeu a distinção da ordem da liberdade (juntamente com Edge, Larry e Adam) por mérito em causas humanitárias... e disse em português correctíssimo (mesmo que tenha tido um ligeiro sotaque a roçar o estranho, foi bonito, e nem passou pela cabeça de ninguém criticar): "Hoje, nós quatro tornamo-nos portugueses!!" Mais um momento de delírio, em que nos apercebemos que Bono gosta de Portugal, não é só palavreado graxista de circunstância, até porque antes ele já tinha referido o facto de terem estado em Lisboa para sessões fotográficas e terem adorado a cidade... Mas bom... o espectáculo continuou com "City of Blinding Lights" e foi uma das músicas marcantes, pois foi quando o badalado espectáculo visual começou a demonstrar realmente ser merecedor de atenção! É dificil explicar, mas basicamente os efeitos permitiram localizarmo-nos numa cidade virtual luminosa, o que foi algo de transcendente, juntamente com o público a cantar com as pausas de emoção: "OH! YOU! LOOK! SO! BEAUTIFULLLL TONIGHT!!!!".

O concerto continuou com 2 das minhas músicas preferidas do novo álbum "How to dismantle an atomic bomb", o que foi um pouco demais para mim, porque se já aguentar a "Miracle Drug" em pé e intacta, sobreviver à tal explosão interior de emoção que veio logo depois com "Sometimes you can't make it on your own" foi complicado... As duas baladas seguidas foram um período de respeito, de mais calma a nível físico, mas de uma intensidade assustadoramente bela: o estádio inteiro com isqueiros, braços no ar a movimentarem-se lentamente ao ritmo da música, e o público continuando a cantar todas as letras com uma carga de sentimento indescritível.

Posteriormente a estes minutos marcantes, cantou-se "Love and Peace or Else" com toda a vontade, com Bono sempre a caminhar pela zona dos phones, indo quer à base esquerda, quer à direita (junto da qual eu me encontrava, pelo que estive bastante próxima dele...). Logo depois, mais um grande clássico, que foi cantado com a máxima garra pelo público, gritando "Sunday Bloody Sunday!!! How long, how long must we sing this song!!", para logo depois se ouvir "Bullet the Blue Sky", cuja letra eu não sabia detalhadamente, pelo que fiquei mais caladita nesta (lógico que não parei de salta e de lançar lá uns "nanananas" pelo meio, mas é sempre melhor saber bem as letras:) Por acaso foi interessante quando o Bono se apercebeu que o público estava em êxtase e cantava tudo, mas mesmo tudo, perguntando com ar de espantado "What's going on here?" (como não estava à espera de tanta colaboração e envolvimento da nossa parte não deve ter treinado esta frase em português:P) e desviou o micro para nós, demonstrando que estava orgulhoso de Portugal e que queria que assim continuássemos até ao fim do concerto...

O momento que se seguiu foi algo de grandioso (não sei se estou a usar vezes de mais a palavra "momento", mas o que é certo é que o concerto foi feito disso mesmo: de momentos, na essência da palavra). Edge sentou-se ao piano, começando a tocar os acordes iniciais de uma das músicas que eu mais queria ouvir no concerto, e Bono fez um longo discurso onde englobou harmoniosamente política, pobreza, fome, e soluções que estão ao nosso alcance (da maneira interessante que capta a atenção de todos, como é característico do mítico vocalista...) Nesta altura as luzes apagaram-se, e Bono sugeriu que contruíssemos uma espécie de árvore de Natal gigante. Para isso, ligámos os telemóveis, e foi-nos indicado que enviássemos uma sms com a palavra "África" e o nosso nome completo para um número que ele indicou de forma a pressionar os países mais ricos, e algum tempo depois os nossos nomes surgiram no ecrã gigante. Nesta altura, voltei a olhar à minha volta, e o estádio todo salpicado de luzinhas minúsculas foi um momento arrepiante, que fez muitos chorar. Eu não sou muito de choradeiras, e apesar das lágrimas terem ameaçado saltar, o que mais de intenso senti foi a certeza de que naqueles breves minutos algo de fantástico e mágico se estava a passar, e eu estava a fazer parte disso! Foi algo que me transcendeu, e ainda agora, só de pensar nisso, me arrepio toda, e fico com aquela sensaçãozinha saltitante de querer partilhar com o resto do mundo aquilo que senti. Para quem está de fora poderá parecer exagerado se não ridículo: "ah, coitada, sentir-se assim com umas luzitas de telemóvel a brilhar num estádio cheio e escuro"... Mas se fecharem os olhos, imaginarem os milhares de pontinhos luminosos a fazer concorrência às muitas estrelas que brilhavam no céu, e os milhares de corpos a balançarem ao mesmo ritmo, poderão verificar que não estou tão tolinha assim.

Ainda antes de começar a cantar a tal música por que eu tanto esperava (que outra música poderia ser escolhida para tantos "momentos" juntos senão "Miss Sarajevo") começou a passar no ecrã gigante a Declaração Universal dos Direitos do Homem, integralmente escrita em português, mas a ser traduzida oralmente para inglês. Foi o culminar de muitas coisas que aconteceram durante todo o concerto, e ninguém resistiu a uma poderosa ovação. Durante vários minutos, bateram-se palmas com força, (com quanto força tínhamos, até!) num acto de orgulho, alegria e emoção, nem percebíamos muito bem de quê, apesar de cada vez mais termos a certeza de estar a presencear algo único! Os rostos trocavam expressões de euforia e ali mesmo, estando apenas a ver um concerto de Rock, todos sentimos que se estavam a unir energias que transcendiam em muito esse conceito de "simples concerto de rock". Foi nesta altura que me apercebi que não era preciso adorar U2, saber as letras, conhecer meticulosamente as músicas para desfrutar do espectáculo na sua plenitude! Não foi apenas um concerto de música, foi algo artístico que conseguiu ir ao fundo das mais profundas emoções humanas (mais uma vez poderão pensar que estou a exagerar, mas acreditem que eu e qualquer outra pessoa presente partilhamos dessa opinião...)

E pronto, depois de andar para aqui a divagar, chega realmente o momento em que Bono canta a "Miss Sarajevo", para em seguida deixar a intensidade espalhar-se um pouco, dando a oportunidade ao público de relaxar e vibrar com "Pride (In the Name of Love)". Logo depois, mais um grande clássico, que quase deitou o estádio abaixo, tal foi a garra com que todos participaram em "Where the streets have no name".

Seguidamente foi a vez doutra música com uma carga humanitária de alto nível: "One". Nesta música, todos deram as mãos, conhecendo-se ou não (no meu caso, veio ter comigo um rapaz que eu nunca tinha visto, e lá vimos a música de mãos dadas) fazendo-as balancear ao ritmo da música, cantando com fervor cada palavra (que tanto significado apresenta). No final foi outra das grandes sessões de aplausos da noite, pois os U2 saíram do palco, dando o concerto como encerrado. Todos sabiamos que era uma questão de mais umas palmas, mais uns "OHHH OHH OHHH OH OHHH" ao jeito de Vertigo e pronto, lá voltaram eles ao palco para mais 3 músicas: "Zoo Station", com cenário luminoso a rigor, "The Fly" e "With or without you" (que foi outra música que fez despertar muita emoção, não só pelo valor intemporal que acarreta, como pela nostalgia que já se começava a fazer sentir por o concerto estar a chegar ao fim.

Nova pausa se verificou, mais aplausos, mais "OH OHH OHHH OHHH" e lá voltaram para as 3 últimas músicas. "All because of you" foi a primeira do trio de finalização, para depois se cantar com toda a força "Yaweh". Durante toda a música se fez sentir a presença de um desejo da parte de Bono de coexistência de todas as religiões, de harmonia entre os povos independentemente das crenças e ideologias religiosas. Formou-se no painel luminoso um enorme coração, representando o amor que deve permanecer entre toda a espécie humana, e para acabar a música uma imponente pomba da paz, que adicionou mais umas pitadas de grandiosidade ao que já estava a ser fenomenal.

E por fim, sim! A última das últimas... Estava determinado pela setlist acabarem com a repetição de "Vertigo", mas a banda alterou os seus planos em honra ao público português, cantando o seu raramente interpretado hino de despedida: "40"! O adeus já pairava no ar, e as saudades já se faziam sentir... Por um lado, pareceu passar num ápice incontornável, por outro, a música pareceu infinita, mantendo-nos num transe inexplicável. Quando finalmente acabou, as luzes acenderam de repente ao mesmo tempo que a banda abandonava o palco, e fomos acordando lentamente daquela espécie de hipnose... Foi duro apercebermo-nos que uma das melhores noites das nossas vidas tinha acabado, mas ficou a certeza de que iria perdurar na nossa memória para sempre.

Os grupos de estrangeiros presentes (que acompanharam toda a digressão) disseram sem receio que o de Alvalade foi o melhor concerto a que assistiram, e os próprios U2 se sentirem felizes por o último concerto europeu da tour ser tão surpreendente e fascinante.

À saída do estádio, todos apresentavam aquela expressão mix de fascínio com nostalgia... Algo de muito forte se passou no dia 14 de Agosto de 2005 no estádio Alvalade XXI, e ainda agora, que mais de 24 horas se passaram depois do concerto, mantenho-me empenhada em arranjar vídeos, fotos, qualquer indício visual que me faça reviver um pouco do que lá senti, pois foi algo realmente indescritível e único. (Lá está a exagerada outra vez, né? ehehe Mas olhem que não!!) De qualquer forma, acabo aqui o post, que já está maior do que o que devia... E mesmo assim muito fica por dizer...

Darko *a gaja que ainda está alucinada com a grandiosidade do concerto e não consegue falar de outra coisa...*

quinta-feira, agosto 04, 2005

"A minha rebelde adolescência a ouvir Nightwish" - sim! Eu gostava de ter estado em Vilar de Mouros...




Boa noite, caros metaleiros que me compreendem (sim, porque se os caros leitores não forem apreciadores de boa música, basta verem a palavra Nightwish no título para imediatamente desistirem da leitura deste post...Vocês é que sabem! Olhem que o post promete... Eu diria mesmo que é provável vir a tornar-se num dos melhores posts de todos os tempos...Ou não...)

Ora, mas deixando-nos de conversa fiada, passemos ao que interessa... Ou melhor: vou aqui começar a enrolar, porque Nightwish é um assunto (e uma banda) tão especial que precisa daquele momento antecipatório cheio de ansiedade. Daí eu achar por bem (até porque está no contexto) aproveitar este mesmo momento para explicar o título que meticulosamente escolhi para o post... "A minha rebelde adolescência a ouvir Nightwish" é uma expressão inventada por um co-autor deste blog cujo nome não vou denunciar (sim, é o Sérgio) escolhida a dedo para classificar alguns textos meus..."Não estou a perceber!"). E agora que o título está explicado (poderia dizer muito mais sobre ele, mas o tal "momento" já se está a esticar demais...) Então aqui vai:

Os finlandeses Nightwish foram os cabeça de cartaz no dia 28 de Julho, dia da abertura do festival de Rock mais antigo do país: Vilar de Mouros. Adorava estar a relatar o que de mais importante se passou, vivendo tudo isso por experiência própria, mas a verdade é que não estive lá... Conspirações sinistras surgiram contra a minha presença no recinto do festival, e então decidi ficar por casa e aguardar com expectativa toda e qualquer novidade sobre o concerto. Ouvi muitos pormenores, vi fotos, filmes, e conclui (tal como todos os que realmente viram o concerto): foi algo de arrebatador. Tarja Turunen no seu melhor, mantendo a sua belíssima voz lírica ao ritmo e qualidade pretendida pela música de Tuomas Holopainen (teclas), Marco Hietala (baixo), Erno Vuorinen - Emppu - (guitarra) e Jukka Nevalainen (bateria), numa apresentação do novo disco "Once" e retrospectiva dos clássicos mais venerados da banda. Acho que por uma questão de desenvolvimento de cultura musical, devem consultar o site oficial (www.nightwish.com), sacar a discografia completa e começar a curtir a verdadeira música (é nesta parte que se começam a rir da minha cara e a dizer "pois sim, claro!" não é?) Mas adiante...

Nesse mesmo dia, nesse mesmo recinto, seguiu-se ao sublime momento da actuação de Nightwish, um concerto duma banda holandesa igualmente fascinante: os Within Temptation. Os presentes disseram que também se tratou de um momento transcendente, em que a música híbrida de goth metal com inspirações clássicas foi crescendo, conquistando todos os presentes, quer conhecessem a banda quer não. No entanto, os fans acabaram por admitir que o concerto foi uma cópia demasiado fiel dos cds, e que mesmo a voz límpiada de Sharon den Adel soava exactamente igual às gravações (não porque tivessem feito playback, como determinadas princesas da Pop cujo nome não vou citar -SIM!!! Britney Spears no Rock in Rio!!- mas sim porque são realmente músicos com qualidade... Não obstante, quando vamos a um concerto queremos alguma vivacidade e algo original, pelo que há quem diga que a actuação de Within Temptation teve esse pequeno senão... (já agora, se também quiserem consultar: www.within-temptation.com)

Para continuar a noite goth metal em beleza, não podiam faltar os ingleses Anathema, estes já muito bem inseridos no panorama musical contemporâneo. O concerto foi, como não podia deixar de ser, excelente, com um momento alto muito aclamado, que foi nada mais nada menos do que um solo de guitarra interpretado por Danny Cavanagh. (Já agora: www.anathema.ws). E pronto, os detalhes e o registo dos sites acabaram, porque realmente estas são três das minhas bandas preferidas, todas no mesmo dia em Vilar de Mouros! Aproveito para deixar aqui um agradecimento aos responsáveis pelo festival, e repitam p'ro ano! (lógico que os responsáveis vão ler isto - então, não?!:P).

Agora vamos acelerar um pouco o passo, porque as 3 melhores bandas que cá estiveram já foram descritas em pormenor (sim, eu sou extremamente imparcial:P). Para finalizar, no dia 28, estiveram também presentes no palco principal Johnny Panic (pela primeira vez em Portugal) e Oratory.

No dia seguinte, o palco principal apresentou nomes sonantes como Peter Murphy, Jesus Jones, Squeeze Theeze Pleeze, Blues Explosion e o regresso de Echo and the Bunnymen (que para além de terem boa música, permitiram que essa mesma boa música entrasse em "Donnie Darko", o que do meu ponto de vista é uma mais valia:P). No palco secundário, actuaram Secrecy, Civic e Spitout.

Quanto ao dia 30, o palco principal foi ocupado pela "jovem e simpática" Joss Stone, Faithless, Joe Cocker e Alabama 3, estando o palco secundário ocupado por Tara Perdida, The Starvan e Aside. (Não sei se já repararam na discrepância de linhas que dispensei ao goth metal em comparação com o resto dos estilos:P)

Para finalizar, no dia 31, último dia de festival, subiu ao palco Robert Plant (and the strange sensation), Jorge Palma, Porcupine Tree (bom, também adoro a banda, mas como o sono já me está a subir à cabeça não vou fazer relatório... Para informações adicionais contactem-me...), Andy Barlow, The Wedding Present e Kidnap, enquanto que no palco secundário "desfilaram" Lullabye, Bliss e Blunder.

Foi um festivel de se lhe tirar o chapéu, e realmente conto com mais para o ano! Nada de me desapontarem, senhores do Vilar! Tenho dito...

Darko *a gaja que queria ter estado em Vilar de Mouros mas não esteve (e que queria ter mais imaginação para a rúbrica final de post "a gaja que..." mas que também não teve...TEMOS PENA!!)